Promover a presença das mulheres no mercado de trabalho
Que desafios enfrentam as mulheres no mercado de trabalho? E como pode a área tecnológica mudar esta realidade? Descubra.
Profissões STEM: Promover a presença das mulheres no mercado de trabalho
Em Portugal e no mundo, a presença das mulheres no mercado de trabalho ainda enfrenta muitos desafios, especialmente no que diz respeito a questões salariais e à representatividade em posições de liderança. Este problema é particularmente grave nas áreas tecnológicas, conhecidas pelo acrónimo STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharia e Matemática), onde a desigualdade de género é ainda mais notória.
Num mundo onde a tecnologia molda o futuro do trabalho, a igualdade de género não pode ser uma questão secundária. É imperativo criar condições para que as mulheres possam também liderar e dar o seu importante contributo ao mercado de trabalho. No entanto, devemos primeiro reconhecer e enfrentar os desafios que ainda impedem a igualdade de oportunidades neste campo.
Os desafios que as mulheres no mercado de trabalho enfrentam
Em primeiro lugar, importa notar que a presença das mulheres no mercado de trabalho continua marcada por uma sobrecarga das responsabilidades domésticas. Um problema assente num modelo conservador de partilha das responsabilidades familiares.
De acordo com o 2024 Report on Gender Equality in the EU,, em 2022, a taxa de emprego das mulheres com filhos era de 73,7%, na União Europeia, ao passo que a dos homens com filhos se situava nos 91%. Ora, tal como refere Claudia Goldin, prémio Nobel da Economia de 2023, “nunca teremos igualdade de género até haver igualdade entre casais”.
Associada a essa desigualdade está, ainda, a disparidade salarial. Por exemplo, um estudo recente da CIG-Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género revelou que, em 2021, mulheres ganhavam, em média, menos 13,1% no que respeita à remuneração base em Portugal. Esta disparidade sobe para 15,9% quando falamos em ganhos totais, incluindo subsídios, prémios e outros benefícios.
Além destes desafios, poderíamos mencionar muitos outros, como o assédio no local de trabalho ou a sub-representatividade das mulheres em cargos de liderança.. Contudo, o foco da nossa análise está na chamada segregação ocupacional — conceito que espelha a ideia de que a presença das mulheres no mercado de trabalho é, lamentavelmente, determinada por estereótipos.
As mulheres nas STEM
De facto, no quadro das carreiras profissionais na área das tecnologias, os estereótipos de género têm um forte impacto na desigualdade entre mulheres e homens. Aliás, esta tendência denota-se, desde logo, no âmbito universitário.
Ainda que as mulheres superem os homens no ensino universitário, quando analisamos as estatísticas, a proporção de mulheres em disciplinas STEM, que “têm melhores salários e perspetivas de carreira, é persistentemente inferior à proporção de homens”. As conclusões são do 2024 Report on Gender Equality in the EU. Por conseguinte, nos últimos dez anos, as mulheres apenas representaram 20% dos licenciados na área das tecnologias da informação e comunicação, na União Europeia.
Erradamente, estas áreas são tradicionalmente percecionadas como masculinas. Já profissões em setores como a educação ou a prestação de cuidados são vistas como “trabalho feminino”. Estes estereótipos contribuem, portanto, para a cimentação de uma cultura de desigualdade, que afasta as mulheres das profissões STEM, tipicamente mais compensatórias do ponto de vista remuneratório.
Além disso, devemos enfatizar que, em Portugal, 38,8% das empresas dizem ter didificuldade em encontrar profissionais com competências digitais avançadas, segundo o nosso Relatório sobre as Tendências Globais de RH 2024, direcionado para o trabalho em Tecnologias da Informação. Não será esta uma razão suficientemente forte para promover políticas que incentivem a atração de mais mulheres para estas áreas?
Combater a desigualdade das mulheres no mercado de trabalho
Para fazer frente à escassez de talento tecnológico — numa era cada vez mais digital —, importa, sem dúvida, ultrapassar os estereótipos de género nas organizações. Ainda que se trate de um trabalho que, desejavelmente, se estenderá a todas as dimensões da vida, o mundo do trabalho deve adotar medidas que permitam mitigar, quanto antes, esta desigualdade. Por exemplo:
- Garantir a igualdade salarial entre mulheres e homens dentro da empresa;
- Implementar políticas que promovam o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional para todos os trabalhadores;
- Criar canais que permitam a denúncia de assédio sexual ou psicológico, de forma segura e discreta;
- Fomentar a representatividade das mulheres em cargos de liderança, com poder de decisão;
- Oferecer condições de acesso, numa base equitativa, a oportunidades de progressão de carreira;
- Promover ações de formação que estimulem o desenvolvimento das carreiras das mulheres no mercado de trabalho;
- Estabelecer metas para avaliar e monitorizar a (des)igualdade de género em cada organização.
Acima de tudo, é necessário sublinhar que a inovação e o desenvolvimento do mercado exigem a inclusão de todos, independentemente do género, da etnia, da nacionalidade ou das crenças. A atual revolução tecnológica é, certamente, uma oportunidade imperdível para criar um contexto mais equitativo, que garanta a igualdade de condições para as mulheres no mercado de trabalho.
Thomas Marra
Country Manager da Gi Group Holding Portugal