Futuro do trabalho: os impactos da transformação digital nos profissionais, na gestão de talentos e na estratégia empresarial
Executivos da Gi Group Holding explicam que o Brasil enfrenta dois cenários destoantes: um por exigências de profissionais qualificados e outro pela questão educacional do Brasil, que ainda reflete muitas desigualdades.
A força de trabalho vem sendo automatizada mais rápido do que o esperado. Segundo o relatório Future of Jobs Report 2023, big data, computação em nuvem e Inteligência Artificial estão no topo da lista de tecnologias que cerca de 75% das empresas buscarão adotar até 2027.
E já faz ao menos uma década que muitos estudos apontavam que viveríamos um gap de talentos no mercado, não pela extinção de postos de trabalho que seriam substituídos pela tecnologia, mas pela falta de profissionais com as habilidades e competências necessárias para atuar em um modelo de trabalho fortemente pautado pelas tecnologias digitais.
Discutir o tema e pensar em estratégias é essencial para ambos os lados
Preparar empresas e profissionais para essa mudança que já está acontecendo é fundamental. Por isso, a Gi Group Holding, como ecossistema completo de recursos humanos, tem debatido o tema em eventos e materiais. Em maio, foi realizado o evento Future of Work, com a presença de gestores da holding do Brasil e Reino Unido e de participantes de grandes empresas dispostos a discutir sobre essa necessidade de adaptação.
Irina Bezzan, diretora da The Bridge, unidade de rede de talentos tech & digital da Gi Group Holding, destacou: “Para permanecer na área, era e é necessário desenvolver muito as hard skills, fundamentais para a inovação. Contudo, o que faz um bom ambiente de trabalho são também as soft skills. Costumamos dizer que, na tecnologia, temos muitas pessoas ótimas em hard skills mas que precisam desenvolver bastante as soft skills. E isso, acredito, é um dos pontos mais difíceis para atrair talentos na área: é por isso que o treinamento e desenvolvimento são fundamentais para preencher esse gap na tecnologia”.
Dados do relatório Tendências Globais de RH no setor de Manufatura – 2023, também realizado pela holding, revelou que a Indústria 4.0 já vem enfrentando essa lacuna nas contratações, com impactos diretos na geração de resultados e sustentabilidade da estratégia das empresas. De acordo com o levantamento da multinacional, 88% das empresas brasileiras do setor consultadas relatam ter dificuldades de encontrar trabalhadores qualificados, índice superior à média global, que ficou em 66%.
De acordo com Renato Soares, diretor da Tack TMI, divisão de treinamento e desenvolvimento, a velocidade das mudanças que estão acontecendo em diversos segmentos, que no caso da Manufatura são refletidos nesse modelo de indústria 4.0, é maior do que o tempo de reação da sociedade para uma ação efetiva na formação de profissionais preparados a essas novas exigências.
Isso ocorre porque a dimensão da mudança das competências e habilidades exigidas dos profissionais não se refere somente a conhecimentos técnicos em tecnologias digitais, por exemplo. Acontece também porque essas transformações estão exigindo abordagens diferentes de trabalho, novos modelos mentais. “Hoje, temos entregado treinamentos para lideranças que falam sobre Mindset Digital, tomando decisões baseadas em dados, e outros conteúdos que indicam que a natureza do trabalho de muitas funções está em transformação”, destaca o executivo.
E o que o empresário pode fazer para reter profissionais e prepará-los para exercer uma função?
Esse cenário traz uma complexidade de soluções. “Pensando naquilo que está ao alcance das organizações para se fazer de forma mais imediata, realizar a integração das informações de uma consistente abordagem de gestão de talentos que ajude a identificar claramente características dos indivíduos que aceleram sua capacidade de aprendizado e adaptação, vinculados a um mapeamento de habilidades e competências críticas que permitam a construção de programa de treinamento tanto de soft skills quanto de hard skills, acabam sendo as ações mais efetivas para gerir os riscos de uma ausência de profissionais qualificados que impactam diretamente a geração de resultados”, afirma.
Para Soares, a pesquisa reforça que, apesar de diferentes habilidades, as exigências tanto para nível operacional quanto para gestão refletem essas transformações.
“Nossa pesquisa sobre tendências de RH para Manufatura mostra que, enquanto profissionais de níveis operacionais estão demandado em conhecimentos técnicos especializados em máquinas e ferramentas com alto nível de tecnologia integrada, além de digital skills e conhecimento sobre tecnologia de fábricas inteligentes; para os níveis de gestão, capacidade analítica, capacidade de gerenciar projetos além de habilidades digitais são exemplos de habilidades mais demandadas”.
Ele lembra que o fato de termos amplo acesso à informação e conhecimento não garante que as pessoas “automaticamente” conseguirão se preparar para esses desafios. “O volume de informações que temos acesso hoje traz o desafio de saber identificar quais são relevantes para o desenvolvimento profissional. É importante que ajudemos as pessoas a pensar em suas carreiras, em suas necessidades e ajudá-las a encontrar formas de selecionar aqueles conhecimentos mais críticos para si mesmos e para as empresas nas quais trabalham. Programas consistentes de gestão de talentos devem ajudar seus potenciais a encontrar caminhos para se pensar as melhores trilhas para formação. Ajudar não significa tutorar, dizer o que as pessoas precisam fazer como “receitas de bolo”, mas precisam trazer dados sobre tendências, estratégia do negócio, desafios e ajudar a detalhar como essas variáveis impactam no conjunto de habilidades e competências exigidos”, ressalta Soares.